Rússia e Ucrânia negociam na Turquia sem aperto de mão nem perspectiva de fim da guerra

Por Jacyara CristinaRedação Por Redação - 29/03/2022 11:12 - 39790
Foto Reprodução
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 SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Delegações de Rússia e Ucrânia se reúnem nesta terça-feira (29) na Turquia para a primeira rodada presencial de negociações a respeito da guerra em quase três semanas.

O presidente anfitrião, Recep Tayyip Erdogan, deu boas-vindas a russos e ucranianos e lembrou que a responsabilidade de "parar essa tragédia" é responsabilidade de ambos os lados.

A Ucrânia tem pouca esperança de um avanço imediato e disse que busca um cessar-fogo, mas sem comprometer seu território ou sua soberania. A baixa expectativa se traduziu no que a TV ucraniana descreveu como "uma recepção fria" no lugar escolhido para a reunião: não houve apertos de mão entre os negociadores.

Ainda assim, a retomada do diálogo presencial é um passo importante em direção a um possível cessar-fogo. Apesar de paralisada na maioria das frentes, a ofensiva russa segue infligindo sofrimento a civis e agravando crises humanitárias em cidades sitiadas.

Figuras do alto escalão de Rússia e Ucrânia deram, ainda na segunda-feira (29), o tom de baixa expectativa para as negociações que começam nesta terça.

Dmitro Kuleba, chanceler ucraniano, disse que iria à mesa de conversas para fechar um acordo que contemple, no mínimo, questões humanitárias e, no máximo, um cessar-fogo, mas sem "negociar pessoas, terras ou soberania".

Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que é importante que as reuniões voltem a acontecer presencialmente, embora as negociações até agora não tenham produzido avanços substanciais -foram três encontros anteriores na Belarus e um na Turquia.
Na segunda, o jornal americano The Wall Street Journal publicou reportagem em que afirma que o oligarca e dois ucranianos tiveram sintomas de envenenamento após uma reunião em Kiev no início do mês.

Em meio às expectativas sobre o resultado da quinta rodada de negociações, o dia na Ucrânia começou com sirenes que alertam a população contra ataques aéreos soando em várias regiões do país.

O Ministério da Defesa da Rússia disse nesta terça que atingiu um grande depósito de combustível na região de Rivne, no oeste da Ucrânia. O relato do ataque, ao mesmo tempo em que busca reforçar o argumento russo de que a ofensiva não mira civis, denota a estratégia de Moscou de atingir alvos longes das linhas de frente para tentar paralisar as linhas de suprimento da resistência ucraniana.

Em comunicado, o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, disse que o plano da Rússia ao concentrar ataques em instalações de armazenamento de combustível é "complicar a logística e criar as condições para uma crise humanitária".

"O inimigo continua a realizar de forma vil ataque com mísseis e bombas na tentativa de destruir completamente a infraestrutura e as áreas residenciais das cidades ucranianas", diz a nota.

No discurso noturno que se tornou uma tradição desde o início da guerra, o presidente Volodimir Zelenski repetiu pedidos de que o Ocidente aumente a pressão sobre a Rússia em retaliação à invasão.

"Nós, pessoas vivas, temos que esperar. Tudo o que os militares russos fizeram até agora agora não justifica um embargo de petróleo?", questionou o ucraniano, reiterando um dos elementos que aparecem em todos os seus pronunciamentos.

Diversos países ocidentais impuseram sanções duras a Moscou, mas a Europa tem grande dependência da Rússia para o fornecimento de energia, de modo que medidas ainda mais rígidas como as sugeridas por Zelenski têm sido tratadas com alguma relutância.

Mariupol, cidade portuária cujo status de possível ponte entre a Crimeia e os territórios separatistas no Donbass é estratégico para os interesses de Moscou, tornou-se um cenário de destruição após mais de três semanas sob cerco russo.

De acordo com a prefeitura, 160 mil pessoas ainda estão presas sem conseguir deixar a cidade. O governo local diz que 5.000 moradores morreram em decorrência dos ataques russos. Entre as vítimas estariam 210 crianças. Os números não puderam ser verificados de forma independente.

"Não há comida para as crianças, especialmente para os bebês. Eles nascem em porões porque as mulheres não têm para onde ir para dar à luz. Todas as maternidades foram destruídas", disse à agência de notícias Reuters a funcionária de uma mercearia de Mariupol que se identificou apenas como Nataliia, depois de conseguir chegar a Zaporíjia.

À medida que a guerra se prolonga, o que se imaginava ser um dos objetivos do presidente Vladimir Putin -a tomada de Kiev- parece ainda longe de se concretizar. "Destruímos o mito do Exército russo invencível. Estamos resistindo à agressão de um dos exércitos mais fortes do mundo e conseguimos fazê-los mudar seus objetivos", disse o prefeito da capital ucraniana. Vitali Klitschko.

A fala, apesar de um tanto romantizada com a retórica da resistência, ocorre também em meio ao crescimento de relatos de contra-ataque da Ucrânia, que vem tentando retomar territórios anteriormente tomados pelos russos.

O que alguns analistas chamam de uma mudança no fluxo da guerra, porém, é visto por outros como uma consequência da mudança de estratégia russa. Moscou está concentrando esforços na expansão do território controlado pelos separatistas na porção leste da Ucrânia.



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