SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — O uso da hidroxicloroquina em pacientes ambulatoriais com quadros leves ou moderados de Covid-19 no início da infecção não se mostrou eficaz na redução de hospitalizações por complicações da doença.
A conclusão é de uma pesquisa feita pela Coalizão Covid-19, aliança liderada pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
O estudo foi realizado com 1.372 pessoas com Covid ou forte suspeita de infecção pela doença e teve a participação de 56 centros de pesquisa brasileiros.
Os pacientes foram divididos, por sorteio, em dois grupos: metade deles foi medicado com hidroxicloroquina em até sete dias do começo dos sintomas, e por mais sete dias seguidos. A dose avaliada foi de 800 mg no primeiro dia (400 mg a cada 12 horas), seguida de 400 mg/dia pelo resto do período.
O outro grupo recebeu da mesma forma o placebo. Todos os participantes foram acompanhados por 30 dias. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa na ocorrência de hospitalização: 6,4% dos que tomaram a hidroxicloroquina foram internados por complicações da Covid; entre os que não foram medicados, a porcentagem foi de 8,3%, de acordo com a Coalizão.
"Na análise estatística, ou seja na avaliação se esta diferença é real ou aconteceu por acaso, não houve significância estatística, portanto, a hidroxicloroquina não se mostrou eficaz para prevenir hospitalizações por Covid", afirma o diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e também integrante da Coalizão, Álvaro Avesum.
Não houve também diferença significativa de eventos adversos sérios ou no número de óbitos: ocorreram cinco mortes em cada grupo.
Uma segunda análise foi realizada, envolvendo as 949 pessoas que do grupo total de participantes da pesquisa (1372) tiveram exame confirmando a infecção pelo coronavírus. Os resultados foram similares: o uso do medicamento não demonstrou benefícios na prevenção de hospitalizações.
O resultado da pesquisa desmonta uma das principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, desde o início da pandemia, defende o chamado "tratamento precoce", a adoção de medicamentos sem eficácia comprovada para combater a Covid.
O estudo foi realizado entre os dias 12 de maio de 2020 e 7 de julho de 2021. Os pacientes tinham mais de 18 anos e precisavam apresentar pelo menos uma comorbidade que aumentasse o risco de deterioração clínica relacionada à Covid-19, como diabetes, asma, doença pulmonar, tabagismo e obesidade.
A pesquisa, segundo a Coalizão, foi feita pelo sistema duplo-cego, em que nem pacientes nem os médicos que aplicam o tratamento sabem quem tomou o medicamento e quem recebeu o placebo.
Os resultados foram publicados nesta quinta (31) no periódico especializado The Lancet Regional Health-Americas. O estudo contou com apoio da farmacêutica EMS, que forneceu os medicamentos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Coalizão aponta que eles também realizaram uma revisão de estudos, em formato de meta-análise, que compilou os dados dessa pesquisa brasileira com outros seis estudos sobre o uso da hidroxicloroquina no cenário ambulatorial (tratamento domiciliar). E o resultado foi o mesmo: ausência de benefício significativo na redução de internações.
"A interpretação é que os nossos dados, incluindo os da revisão, não apoiam o uso rotineiro de hidroxicloroquina para prevenir hospitalização por complicações da Covid", conclui Álvaro Avesum.
A Coalizão foi responsável por outros estudos como o que mostrou que a administração de hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves ou moderados de Covid-19 não promoveu melhoria na evolução clínica deles. Outras três pesquisas do grupo seguem em andamento.
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