Por Flávio Lúcio Vieira
Desde o início da semana passada está em andamento um esforço articulado de ocupação da mídia por parte de parlamentares estaduais ligados ao grupo de Ricardo Coutinho, que envolve até mesmo o governador, para tentar desqualificar a aparição conjunta do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e do senador Cássio Cunha Lima.
Os dois foram juntos no domingo retrasado em Riachão, a convite do prefeito Fábio Moura, para participar de eventos em comemoração ao aniversário da cidade, que fica no Curimataú paraibano.
O bloco ricardista sentiu de tal maneira o golpe que por toda a semana passada nomes foram escalados para desferirem ataques ao encontro, mirando especialmente em Cássio Cunha Lima.A começar pelo líder do governo na Assembleia, Hervásio Bezerra, que logo na segunda (1/5) abriu as baterias pela manhã, dando entrevistas com ataques virulentos ao encontro entre Cássio e Cartaxo.
Ao meio-dia, Bezerra foi à Radio Tabajara passar recados ao prefeito pessoense comparando os governos RC-Cássio e lembrando, sem muita cerimônia, o envolvimento do senador campinense nos recentes escândalos que abalaram o alto tucanato.
No dia seguinte, na terça, foi a vez do próprio governador conceder longa entrevista aos radialistas Nilvan Ferreira e João Costa, da Rádio Arapuã, onde novamente RC comparou seu governo ao de Cássio, continuou a bater na tecla de que é necessário dar continuidade ao “projeto” em 2018, impedindo assim um retorno ao passado, e, por fim, desautorizou quem defende publicamente qualquer aliança entre ele e o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo.
Nesse ponto, a fala de RC foi tão sem convicção que cabe mesmo compará-la com a fábula “a raposa e as uvas”, de Esopo, em que a raposa, sem conseguir pegar as apetitosas uvas, justifica sua desistência sob o argumento de que estariam verdes.
Aliança Cartaxo-Cássio
Ao que parece, o encontro claramente surpreendeu os ricardistas e eu apostaria em dois motivos: o primeiro é que seria muito cedo para Cunha Lima e Cartaxo aparecerem juntos pelo Estado porque, até onde se sabe, Cássio é – ou era − um dos pretendentes à cadeira onde hoje senta RC, cadeira que também é almejada por Luciano Cartaxo.
Então, das duas uma: ou passamos a acreditar que fatos como esse acontecem movidos pelo acaso, abstraindo-se deles toda a simbologia de que estão carregados, ou Cássio sinalizou para a desistência antecipada de sua candidatura em benefício de Luciano Cartaxo, fato que deve provocar calafrios no governador.
O segundo motivo é que, ao aparecer ao lado de Cássio, Cartaxo não se mostra preocupado com uma possível contaminação de sua imagem em razão do envolvimento do tucano na Operação Lava Jato, na qual o senador já é investigado formalmente pelo STF.
Ou seja, Cartaxo sinaliza que, por enquanto, quer o apoio de Cássio e do PSDB para sua candidatura ao governo, e isso se configura em um fato político de grande relevância em um quadro de grandes indefinições que marca a política paraibana atualmente.
E isso tende a produzir consequências também relevantes.
Uma delas é tornar a candidatura de Luciano Cartaxo ao governo não apenas o principal, mas o único desaguadouro do oposicionismo, podendo ajudar a esvaziar o ensaio de candidatura que José Maranhão tenta alavancar, atraindo-o para o bloco cartaxo-cassista, já que todos eles (Cartaxo, Cássio e Maranhão) têm em comum pertencerem a partidos que apoiam o governo Michel Temer em Brasília.
Nesse sentido, é bom que ninguém se engane: 2018 será uma luta de vida ou morte para esses partidos e suas lideranças nacionais, e, portanto, haverá pouco espaço para a “flexibilização” de alianças nos estados com personalidades da oposição (ao governo Temer), como Ricardo Coutinho.
Isso provavelmente deve se entender a partidos como Dem e PPS, hoje no colo do governador, e que, nacionalmente, atuam em aberta confrontação ao campo nacional a que RC faz parte, que hoje inclui o PT.
A segunda consequência desse movimento de consolidação da candidatura de Cartaxo é que ela tende a antecipar a decisão estratégica de Ricardo Coutinho, ou seja, a definição se ele ficará no governo ou se será candidato a algum cargo em 2018 (Senado ou Vice-Presidência da República).
Definições que estão intimamente relacionadas a quem será o/a candidato/a apoiada por RC. Caso ele seja candidato, a tendência é que Lígia Feliciano assuma o governo e seja candidata à reeleição. Caso RC fique, os nomes de Estela Bezerra e João Azevedo aparecem como favoritos para sucedê-lo.
Mas é sempre bom lembrar que tem muita água para correr debaixo dessa ponte e, mesmo com essa aproximação entre Cartaxo e Cássio, não significa dizer que a aliança vá mesmo acontecer.
Como eu já afirmei por aqui há muitas variáveis em jogo para serem consideradas e ajustadas e meses em política representam uma eternidade. Nem mesmo se pode descartar uma reaproximação entre Cartaxo e RC. Tudo dependerá de como o impacto da conjuntura nacional afetará politica e eleitoralmente a Paraíba.
Mas, a preço de hoje, como se diz por aí, Cássio e Cartaxo deram um passo decisivo para mostrarem uma aproximação. E isso preocupa sobremaneira o Palácio da Redenção.
- Flávio Lúcio Vieira, Professor Doutor da UFPB, é analista político convidado pelo blog