ESQUENTAI VOSSOS PANDEIROS

 A legitimidade da origem do samba será sempre um tema a ser discutido, porquanto há controvérsias entre os estudiosos. Mas em sua grande maioria, pesquisadores relatam que o samba nasceu há mais ou menos cem anos, e cujos antepassados sem indicar dentro de uma ordem cronológica, são os cantos africanos, lundu, o batuque, o jongo ou caxambu. E no Brasil trazem-nos o registro de uma desmedida mistura de ritmos e tradições, cujas origens provem dos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram como escravos para o Brasil.

Entre tantas polêmicas, cremos, pois, que a música “Pelo Telefone”, composta por Ernesto Joaquim Maria dos Santos, conhecido popularmente por Donga, apesar de alguns especialistas contrariarem essa afirmação de forma contundente, no sentido de que a letra dessa canção seria do jornalista Mauro de Almeida, é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil, segundo a maioria dos estudiosos, e a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, onde ali há um relato de que foi o sucesso do Carnaval de 1917. “Pelo Telefone” então, é de fato, a estréia do gênero, apesar de entendermos que se trata de um maxixe.

Nota-se pela letra de “Pelo telefone” a primeira delação premiada da corrupção no Rio de Janeiro, pois as armações do chefe de polícia foram denunciadas, a despeito de Donga, em depoimento no Museu da Imagem e do Som, ter dito que a letra original é “o chefe da folia”, onde se conclui que qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência.

Se fictício ou real, não se sabe ao certo, mas é consenso o fato de que foi no balneário de São Sebastião, região central do Rio, que o samba evoluiu de forma brilhante, sob o comando das Tias Baianas.

E Zé Kéti, cantaria mais tarde: “Eu sou o samba/Sou natural daqui do Rio de Janeiro/ Sou eu quem levo a alegria/ Para milhões de corações brasileiros.” 

Por mais que a nossa historiografia os tenha desprezado, os negros baianos radicados no Rio principiaram novos costumes, hábitos, e valores que inspiraram a cultura carioca, a exemplo do samba.   

E a permanência do samba no cenário, dá-se porque ele traz em sua substância a dor da alma africana e o dom antagônico de produzir alegria.

“O samba é o cidadão que move musicalmente o Brasil. Humilde, a ele bastam um cavaquinho, um pandeiro, um tamborim e um intérprete. Ele se sujeita a tudo, já correu da polícia, enfrentou o preconceito da alta sociedade, mas sempre tem alguém para lhe acudir”.

Quem assim define o samba é o axiomático Nelson Sargento, uma das mais altas patentes do gênero, que com sensibilidade de poeta compôs um vaticínio em forma de clássico: “Samba, agoniza, mas não morre, alguém sempre te socorre antes do suspiro derradeiro”. 

O fato é que o samba é considerado por muitos críticos de música popular, artistas, historiadores e cientistas sociais como o mais original dos gêneros musicais brasileiros ou o gênero musical tipicamente brasileiro. 

Brasil esquentai vossos pandeiros.