O moderno jornalismo chapa branca e suas estrelas. Por Paulo Nogueira

 Tradicionalmente, jornalismo chapa branca sempre significou jornalismo a favor do governo.

Mas isto em sociedades avançadas. Ou ao menos normais.

Em países dominados pela plutocracia, como é o caso do Brasil, jornalismo chapa branca é outra coisa. É um tipo de jornalismo que defende os interesses do real poder – o dos donos do dinheiro. Que ajuda a perpetuar desigualdades, privilégios e mamatas. Que trabalha a favor do atraso.

O jornalismo chapa branca é produzido torrencialmente pelas grandes empresas jornalísticas: Globo, Folha, Abril, Estadão.

Suas estrelas são colunistas, comentaristas, apresentadores, editores. São eles que recebem os holofotes, a fama, o dinheiro.

Mas são marionetes. Por trás deles estão os Marinhos, os Frias, os Civitas, os Mesquitas. São meramente executores. Não questionam; obedecem. Terão tudo de bom que a plutocracia pode oferecer a seus servidores, mas desde que façam o que ela quer.

Eles não governistas ou oposicionistas. São simplesmente patronais.

Os jornalistas chapa branca raras vezes têm problemas de consciência. Cinismo é um atributo essencial de sua personalidade.

Você não tem espaço nas redações de hoje se não for chapa branca. Não existe um só diretor de redação de jornal, revista, telejornal ou o que for que não seja chapa branca.

E eles se protegem e se reproduzem. O diretor se cerca de editores iguais a ele. Os editores, de repórteres iguais a eles. Até os contínuos são chapas brancas.

Se você não é, vira um pária na redação. E vai embora. Um jornalista independente sabe que um furo só será aceito se for contra os inimigos dos patrões.

Você tem uma denúncia espetacular sobre Aécio? Não adianta. Isso vai complicar sua vida na redação, em vez de melhorá-la. Você será visto como um cara perigoso, mesmo que as provas sejam devastadoras.

Você está disposto a assinar um texto que assassine Lula, mesmo sabendo que a base dele sejam mentiras? Sua carreira vai decolar. Seu negócio não é exatamente fazer jornalismo: é fazer propaganda contra os que incomodam a plutocracia.

A Veja inaugurou a moderna era do jornalismo chapa branca ao se transformar num panfleto plutocrático assim que Lula chegou ao poder.

Os pioneiros da nova ordem vieram exatamente da Veja: Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Azevedo gosta de dizer que escreve o que quer. Sim, desde que o que ele queira se ajuste aos desígnios dos plutocratas que lhe pagam. Aos dois posteriormente se juntariam  Marco Antônio Villa, Augusto Nunes, Ricardo Setti e tantos outros.

A Globo tem um elenco numeroso de chapas brancas: aos veteranos como Merval, Kamel, Míriam Leitão, William Waack, Noblat e Jabor, se juntaram, nos últimos anos, nomes novos como Diego Escosteguy e Erick Bretas. As mulheres estão bem representadas entre as vozes da plutocracia: Eliane Cantanhede, Dora Kramer, Rachel Scheherazade, Mônica Waldwogel, para citar algumas.

Todos eles, veteranos e novatos, homens e mulheres, serão encarados pela posteridade como aberrações do jornalismo. Muitos sabem disso, mas nada os deterá. Os chapas brancas estão preocupados não com o futuro, com seu papel na história – mas com as recompensas materiais que sua falta de caráter e de decência lhes traz.

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Da Redação com Roberto Noticia e Paulo Nogueira