Depois que tivemos acesso à acusação e às conversas íntimas, estamos todos atentos ao desfecho do caso Neymar. Estupro é crime hediondo e dá cadeia. Falsa acusação de estupro além de ser grave, enfraquece toda uma luta para que as mulheres denunciem seus agressores. E por último, divulgação de conversa e fotos íntimas sem consentimento já é tipificado como crime no Brasil. Mas eu queria dar alguns passos atrás e aproveitar essa história para falar da explosiva combinação entre futebol, dinheiro (muito dinheiro) e mulheres.
Nitidamente a história de Neymar passa por essa combinação que muitas vezes já foi desastrosa. E até mortífera. Não esqueçamos que o goleiro Bruno foi condenado pelo assassinato de Eliza Samudio em circunstâncias que traziam essa tríade envolvendo boleiros, grana e mulheres. Cristiano Ronaldo também foi acusado de estupro recentemente. Mas existem outros casos bem menos graves, que trazem à tona as mesmas questões. Como o da modelo que entrevistei há alguns anos, que recebeu dezenas de presentes caros de um jogador interessado nela, e também o das chamadas Maria chuteiras, que orbitam o universo dos jogadores interessadas na mesma rápida ascensão que os fez ricos.
Cada história à sua maneira nos leva a um mesmo ponto: a posição de submissão da mulher diante desses (enricados, famosos e de origem humilde) rapazes. Podemos até dizer que elas são interesseiras, mas na verdade, elas são corpos e mentes a serviço desses rapazes. Alguns podem ladrar: “mas elas fazem isso porque querem”. Sim, lógico. E é por isso que digo que a combinação é explosiva, sem intenção de distribuir a culpa. Mas independentemente da ordem dos fatores, o que vemos são mulheres se subjugando a homens ricos e famosos.
Moças e moços ambiciosos, livres e cada um com um interesse diferente vivendo relações pautadas por coisas bem distantes de amor e tesão. Quando vemos Neymar pagar passagem e hospedagem para a moça (e ainda perguntar se ela não quer trazer uma amiga para não ficar muito sozinha) estamos diante de uma gigantesca demonstração de poder. E mesmo evocando nosso lado mais ingênuo e acreditando que foi a primeira ou a única vez que o jogador fez isso: estamos diante de um homem que manda vir da terra natal (além-mar) mulheres para satisfazerem seu prazer. Podemos nos perguntar, mas será que na França não há moças que dancem funk e combinem com ele? Claro que há, inclusive brasileiras. Mas o poder está justamente em “mandar vir”. Em ser o mestre dessa cena, o chefe, o pagante.
Esse é o poder do dinheiro, mas não só dele. É o poder da fama também. Todos nós temos a sensação de que conhecemos Neymar muito bem. Quem aqui não entraria num carro com ele? Afinal, conhecemos sua família, sua história, seus podres e claro, seu potencial midiático. Se quem estivesse na ponta da linha fosse (apenas) um milionário desconhecido, muitas das moças não embarcariam na conversa. Leia-se, muitas moças não topariam se submeter às vontades, datas e desejos deles.
E a podridão está aí. Nesta cultura criada em torno dos (bem-sucedidos) jogadores de futebol brasileiros que os coloca em posição de rei, no sentido mais escroto da palavra. Entorpecidos pelo poder e pela grana eles acabam sentando no trono e agindo de forma autoritária, principalmente em relação às mulheres.
Uma dinâmica que já começa tóxica e não precisa muito para acabar em embricadas brigas na justiça, estupro, morte ou acusações mentirosas.
É por isso que eu digo que independentemente do desfecho dessa história, ele será triste. Será mais uma vez o escancaramento dessa dinâmica com ética e princípios frágeis que demonstra a total falta de preparo emocional para lidar com a ascensão meteórica. Porque dinheiro não traz dignidade, ao contrário, nos leva para uma linha tênue onde o mundo parece estar aos nossos pés.
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Da Redação com Roberto Noticia e Lia Bock