Tudo ainda continua indecifrável e obscuro, pois o vírus invisível não é percebido pelos que não expressam sintomas, mas mata indistintamente. Começou matando os velhos, depois aqueles com comorbidade, e agora, jovens saudáveis.
Mesmo assim ainda persiste as situações contraditórias, pois há os apavorados que têm medo até da própria sombra, seguem o distanciamento social à risca, lavam com álcool as compras e usam luvas até para ler jornal. Paradoxalmente, há as pessoas que não se importam com os resultados de seus atos, porquanto se aglomeram, e lançam salpicos de saliva sem guardar a mínima distância de segurança.
A única certeza é que essa alongada constância da pandemia atinge profundamente a alma humana, franqueia a desumana divisão entre incluídos e excluídos, mas todos, sem ruptura da regra, submissos à indefinição.
E para completar ainda tem o fato de que muitas pessoas nem sempre podem contar com a ajuda solidária na permanente procura de um sentido para a vida.
Nesse aspecto, e para esquecer um pouco da praga desse vírus no planeta, é aconselhável leituras para quem gosta de ler, canto para quem canta, composição para quem compõe, fazer poesia para quem é poeta. Essas atitudes podem auxiliar a manter o rumo e a diminuir as instabilidades entre a aflição e o desespero, a sofreguidão.
Ainda mais porque, cremos, a pandemia da Covid não é o fim da história. Ela tem mais a performance de ser uma espécie de teste, embora feroz demais para que a humanidade aprenda que a natureza suportou pacientemente nossa falta de organização e respeito por uns milhões de anos, e nesse momento parece não estar mais a fim de conter a onda.
Em momentos pretéritos, e para garantir nossa existência, tivemos que sacrificar outros animais. Posteriormente, sofismamos a agricultura, e extraímos da terra o que era dela. Depois fizemos uma revolução, ao concebermos máquinas para nos aliviar ou nos preparar para a imprescindível guerra. Assim sendo, interferimos no tempo e no espaço e o resultado foi poluir tudo. Nos restou explodirmos bombas para tirar a dúvida de quem tem mais vigor e merece ficar com o melhor pedaço do defunto planeta terra. Ou fazemos uma conciliação com a natureza ou é melhor desistir de sobreviver.
Assim como ninguém sabe quando e como vai passar essa praga no planeta, ninguém pode saber como será o mundo depois que ela for embora. Isso é, se ela um dia aceitar ir embora. Quantas cepas ainda se diversificarão por aí?
Essa dificuldade de resposta persevera mesmo quando consideramos que existem oito vacinas que acautelam a doença e pelo menos 125 países e territórios que já começaram a imunizar suas populações.
Demétrius Faustino