Polêmica sobre Cabedelo prenuncia problema para PSB e Cícero Lucena

 Não se sabe se quando declarou, em Campina Grande, que o PSB exigiria reciprocidade de aliados do prefeito Cícero Lucena em Cabedelo para a disputa das eleições municipais de 2024, endossando a candidatura própria do ex-deputado Ricardo Barbosa, o governador João Azevedo tinha a noção de que estaria fazendo emergir problemas sobre sua aliança política em João Pessoa.

Ao longo do tempo, o governador sempre fez questão de dar declarações assegurando não haver dúvidas ou problemas para a manutenção da aliança com o prefeito Cícero Lucena e com o PP, não permitindo o surgimento de quaisquer questionamentos entre assessores e aliados. Parecia mesmo que o governador agia para sufocar qualquer insurgência de manifestações de descontentamentos em relação ao acordo celebrado para as eleições de 2020 ou o surgimento de outros planos de candidatura. 

Por tudo que já disse e pelas ações e atitudes, não há como duvidar da posição e disposição do governador em relação a manutenção do compromisso com o projeto de reeleição de Cícero. 

Todavia, o apelo à reciprocidade em Cabedelo, talvez bem natural para governador, parece ter destravado problemas represados no seio do PSB. 

A questão Cabedelo acabou se avolumando. O próprio governador João Azevedo já foi obrigado a abordar o assunto novamente, agora admitindo buscar unidade, mas reafirmando, na frente Cícero, nesta terça-feira (4/7), que haverá disputa onde não houver acordo. Cícero também já falou duas vezes sobra a questão. Numa, refratário, disse não haver regras para alianças em municípios diferentes; noutra, receptivo, disse defender a unidade com o PSB em Cabedelo.

O prefeito Victor Hugo (Cabedelo) até já foi à público defender aliança com o PSB e o governador, mas fazendo duras críticas ao ex-deputado socialista Ricardo Barbosa.

O presidente estadual do PSB, deputado Gervásio Filho, refutou a ideia da unidade com o grupo do prefeito Victor Hugo e cobrou reciprocidade direta do prefeito Cícero Lucena. Chegou a dizer que, em 2020, atendendo pedido direto de Cícero, o PSB deixou de lançar candidatos a deputado federal em João Pessoa para não atrapalhar Mersinho Lucena, tendo deixado de trabalhar para eleger dois deputados federais. O maior interessado, Ricardo Barbosa, também cobra a reciprocidade do grupo do prefeito Cícero Lucena e faz duras críticas ao prefeito Victor Hugo e o deputado federal Mersinho Lucena se manifesta afirmando que sua missão é unir novamente o governador João Azevedo e o prefeito Victor Hugo. De repente, bastante confusão onde, aparentemente, reinava a paz. 

Parece um caso isolado, mas não é. Esse salseiro em Cabedelo talvez diga muito sobre João Pessoa. As cartas ainda não estão na mesa, mas, provavelmente, onde mais o PSB vá cobrar reciprocidade será na própria capital. 

A reciprocidade em Cabedelo não é a única cobrança a Cícero. No início da semana, o presidente da legenda na capital, Tibério Limeira, adiantou que a aliança não será celebrada sem discussão prévia de um plano de governo para a segunda gestão. A questão é melindrosa porque pode acentuar divergências e não se chegar a entendimentos sobre muitos pontos. 

A evidência clara, nesse momento, a partir desse ensaio de Cabedelo, é que a aliança entre PSB e PP para o projeto de reeleição em João Pessoa, não será tão pacífica quanto em 2020. Naquela quadra, Cícero procurava ansiosamente por um esquema político para ser candidato, João buscava um candidato e o PP queria crescer na capital. Houve a mais perfeita junção da fome com a vontade de comer. Quase nenhuma discussão, pouquíssimos compromissos. Agora não. A realidade é outra.

Depois das eleições estaduais, o governador e o PSB estão fortalecidos; Cícero avalia que, no cargo, tem mais cacife, e o PP acredita que tem um trunfo para as articulações, que é o vice-governador Lucas Ribeiro. Todos ficaram meio bicudos. Então, há muito mais dificuldades para se beijarem, ou seja, para a satisfação de todos os interesses políticos. Os problemas podem estar apenas começando.

Por Josival Pereira